#59 Trabalho escravo e a questão racial
O Brasil é um dos países com maior desigualdade social do mundo. E a raça é um dos marcadores centrais para determinar quem tem mais ou menos oportunidades por aqui. Pretos, pardos e indígenas são, infelizmente, os que mais sofrem com a desigualdade – e acabam sendo também os mais afetados por contextos de vulnerabilidade social. A consequência disso é que acabam sendo os mais expostos ao aliciamento e à exploração do trabalho escravo.
Não é a primeira vez que abordamos estes dados, mas este tema, infelizmente, ainda está longe de se esgotar. Entre 2003 e 2021, 60,4% das pessoas submetidas a trabalho escravo eram negros*, porcentagem que supera o total de pessoas que se autodeclaram negras no país (55,9%), segundo os dados recém-publicados do IBGE (2022).
Em alguns períodos, a proporção de afrodescendentes escravizados é ainda maior. Entre 2016 e 2018, essa porcentagem bateu assustadores 82% de pessoas negras do total de resgatados de situações de trabalho escravo, concentrados principalmente no setor agropecuário.
Já os indígenas representam pelo menos 3,7% dos trabalhadores resgatados que declararam etnia desde 2003**. Com o processo de expansão da fronteira agropecuária, muitas vezes, os seus territórios são invadidos, e eles são obrigados a deixar o local onde vivem e os meios de subsistência. Diante disso, são facilmente aliciados para trabalhar em condições degradantes e com jornadas exaustivas em fazendas, na colheita de maçã e no garimpo ilegal.
*Dados do Ministério do Trabalho e Previdência sistematizados pela Repórter Brasil e pela Comissão Pastoral da Terra, 2022
**Dados oficiais da Divisão de Fiscalização Para Erradicação do Trabalho Escravo (Detrae), 2022
Foto: Sérgio Carvalho / Ministério do Trabalho e Emprego