#22 Marcas do trabalho escravo: Zé Pereira
José Pereira Ferreira tinha apenas 17 anos quando tentou fugir dos maus tratos a que era submetido na fazenda Espírito Santo, no sul do Pará. Goiano de São Miguel do Araguaia, o menino chegou ao Pará com oito anos. Acompanhava o pai, que também fazia serviços para fazendas. Mas, na tentativa de fuga, ocorrida em 1989, foi emboscado por funcionários da propriedade. Seu colega de fuga, o Paraná, foi assassinado, e Zé Pereira levou um tiro no rosto. Fingindo-se de morto, teve o corpo jogado na beira da estrada, em frente a outra fazenda, a Brasil Verde. Lá, conseguiu pedir socorro.
Algum tempo depois, Zé Pereira denunciou a situação à Polícia Federal, que chegou a ir com ele à fazenda, para resgatar outros trabalhadores. Mas esse era apenas o início do processo: o caso de Zé Pereira foi reiteradamente denunciado às autoridades brasileiras, sem que os responsáveis pela tentativa do seu assassinato fossem investigados ou punidos. Organizações como a Comissão Pastoral da Terra (CPT), então, levaram o caso à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), onde se tornou notório. Em 2003, o Brasil firmou uma solução amistosa com a CIDH, comprometendo-se com medidas de combate ao trabalho escravo. Zé Pereira recebeu a indenização que lhe era devida nesse mesmo ano, mais de 14 anos depois de quase ter sido morto.