#99 Invasão de terras indígenas é marcada por trabalho escravo

No último sábado (09/11) o governo federal iniciou uma operação de desintrusão da Terra Indígena (TI) Munduruku, nos municípios de Jacareacanga e Itaituba, no Pará. A ação consiste na retirada de pessoas não indígenas que invadem a TI com máquinas e acampamentos para o garimpo ilegal. Muitas vezes, nas operações de desintrusão, também são resgatados trabalhadores submetidos ao trabalho escravo.

Esse foi o caso da megaoperação na TI Apyterewa, no município de São Félix do Xingu (PA), em 2023. Alvo da expansão da pecuária e do garimpo ilegal, a Apyterewa é a terra indígena mais desmatada da Amazônia Legal desde 2018, segundo o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Na desintrusão, um trabalhador foi resgatado na fazenda Sol Nascente, uma das maiores dentro da TI. Ele trabalhava no plantio de macaxeira, banana, cana-de-açúcar e abóbora, e na criação de porcos e galinhas para subsidiar a alimentação dos que trabalhavam na criação de gado bovino, principal atividade econômica da propriedade. O trabalhador vivia em alojamento precário, não tinha acesso a água potável nem a instalações sanitárias, tinha seus documentos retidos e não recebia salário. 

Também há casos em que as atividades produtivas ilegais que pressionam e ameaçam as comunidades indígenas acontecem ao redor das TIs, em áreas de reserva ambiental, e também se utilizam de trabalho escravo. Há quatro meses, na operação de desintrusão da Terra Indígena Karipuna, entre os municípios de Porto Velho e Nova Mamoré, em Rondônia, cinco trabalhadores foram resgatados ao lado da terra indígena, na Reserva Extrativista (Resex) estadual de Jaci Paraná. Nesse caso, eles eram escravizados na criação de gado bovino. Viviam em alojamentos precários, não tinham acesso à água potável, nem a instalações sanitárias.

Entre 2023 e 2024, o projeto Escravo, nem pensar! da Repórter Brasil formou representantes de organizações da sociedade civil do Pará e do Amazonas para atuarem na identificação, denúncia e atendimento de vítimas do trabalho escravo, prática relacionada a crimes ambientais na região.

Foto: Acervo Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia – CENSIPAM

Publicado em 14 nov. 2024.