#93 Indígenas mais afetados por conflitos de terra e trabalho escravo são do Mato Grosso do Sul

No último fim de semana, um grupo armado invadiu uma das terras originárias retomadas pelo povo Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul. O território pertence à Terra Indígena Lagoa Panambi, no município de Douradina, e havia sido apropriado por fazendeiros.

No ataque, os criminosos feriram ao menos onze indígenas e incendiaram seus pertences. O caso não é isolado, e aponta para a violência que os povos originários do estado enfrentam, seja por conflitos de terra, ou ainda, pela submissão ao trabalho escravo.

Em 2023, o Mato Grosso do Sul liderou os registros de (105) conflitos por terra em territórios indígenas, de acordo com o relatório “Conflitos no campo – Brasil”, da Comissão Pastoral da Terra (CPT). As terras dos Guarani-Kaiowá são os principais alvos de disputa no estado, por meio de ataque e assédio à retomada, reintegração de posse, incêndio criminoso, omissão e morosidade na demarcação e intimidação policial, segundo o Conselho Indigenista Missionário (CIMI).

A falta de acesso à terra aumenta a condição de vulnerabilidade social e econômica dos indígenas do estado. Como resultado, em muitos casos são obrigados a aceitar empregos em condições precárias. Essa é uma das razões pelas quais o Mato Grosso do Sul é o principal estado de origem de indígenas resgatados do trabalho escravo no Brasil.

Dentre os 735 trabalhadores submetidos à prática desde 2003, 69% são do estado. Destes, 92% foram explorados em atividades agropecuárias, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego sistematizados pela Repórter Brasil e a Comissão Pastoral da Terra.

O programa educacional da Repórter Brasil, “Escravo, nem pensar!”, implementa em 2024 um projeto de prevenção ao trabalho escravo e crimes ambientais para a rede de Assistência Social do Mato Grosso do Sul. O objetivo é qualificar esses profissionais para que atuem na prevenção, denúncia e encaminhamento de casos de trabalho escravo diante das populações que atendem, como pessoas indígenas em situação de vulnerabilidade social.

Foto: Lunaê Parracho

Publicado em 9 ago. 2024.