#66 A invisibilidade da mulher no trabalho de cuidado
Aplicado neste domingo (5/11), o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023 teve como tema de redação “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”. No #EducaRB desta semana discutimos a pertinência desta temática no mundo do trabalho.
As atividades de cuidado são centrais na garantia do mantimento e reprodução da vida em sociedade, mas muitas vezes não são consideradas enquanto trabalho e sofrem com baixa ou ausência de remuneração, além de informalidade e precarização.
O trabalho de cuidado é o conjunto de atividades físicas e emocionais, remuneradas ou não, que garantem o bem-estar e a sustentação da vida. São exemplos destas atividades: dar banho, ninar, alimentar e ensinar crianças e idosos, além da realização de tarefas domésticas como limpar, cozinhar, retirar lixo e lavar roupa.* No Brasil, mulheres dedicam 9,6 horas por semana a mais do que os homens para as tarefas do cuidado, seja em suas próprias casas ou a partir da ocupação enquanto trabalhadoras domésticas, cuidadoras, enfermeiras, assistentes sociais, entre outras.**
O trabalho doméstico remunerado, no caso, cobre boa parte das demandas de cuidado da estrutura social no país, mas é uma categoria que sofre com falta de direitos e desigualdades raciais e de gênero. Mensalistas, diaristas, babás, cozinheiras e cuidadoras, por exemplo, são em sua maioria mulheres pretas que recebem menos de um salário mínimo, além de muitas não terem carteira de trabalho assinada: em 2021, somente 25,4% delas tinham o vínculo formalizado.***
Muitas vezes, a falta de reconhecimento dessa prática enquanto trabalho e a informalidade tornam as domésticas mais suscetíveis a situações de exploração, como o trabalho escravo. Dessa forma, a falta de visibilidade da categoria implica em subnotificação de casos. A primeira operação do Ministério do Trabalho e Emprego que resultou no resgate de uma trabalhadora doméstica do trabalho escravo ocorreu somente em 2017. Desde então, 81 trabalhadores já foram encontrados submetidos a esse crime até 2022, sendo a maioria deles mulher.****
*Organização Internacional do Trabalho (OIT), 2018
**Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2023
***Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), 2023
****Dados do Ministério do Trabalho e Emprego sistematizados pela Repórter Brasil e a Comissão Pastoral da Terra, 2022
Foto: Bianca Pyl/ Repórter Brasil (SP, 2018)