Trabalho escravo persiste no Brasil após 20 anos de plano de erradicação: ‘Naturalizamos o trabalhador em condições desumanas’

Confira aqui a matéria original publicada na web do G1.

Mais de 48 mil pessoas foram resgatadas do trabalho análogo à escravidão desde 2003

O resgate de mais de 200 trabalhadores escravizados em vinícolas da Aurora, Salton e Cooperativa Garibaldi em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, contribuiu para expor a distância que o Brasil se encontra de sua meta para erradicar até 2030 o trabalho análogo à escravidão.

De acordo com o Observatório Digital de Trabalho Escravo no Brasil, mais de 48 mil pessoas foram resgatadas do trabalho análogo à escravidão desde 2003 – ano em que foi criado o primeiro plano de erradicação.

“O trabalho escravo existe em grande medida no Brasil porque a gente naturaliza essa forma de exploração. A gente naturaliza que o trabalhador possa estar em condições desumanas”, afirma Natalia Suzuki, coordenadora do programa “Escravo nem pensar”, o primeiro programa nacional de prevenção ao trabalho escravo.

Após as denúncias contra a Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde Ltda, empresa que oferecia a mão de obra para as vinícolas, uma entidade industrial de Bento Gonçalves tentou justificar a existência de trabalho escravo na região à “falta de mão de obra” e “sistemas assistencialistas”.

Em Caixas do Sul, o vereador Sandro Fantinel (Patriota), pediu que empresas “não contratem mais aquela gente lá de cima”, se referindo a trabalhadores vindo da Bahia, de onde saiu a maioria dos homens e mulheres resgatados das vinícolas.

O responsável pela empresa que escravizou os trabalhadores foi preso, mas vai responder em liberdade.

“O que espanta a gente nessa situação é que já há algum tempo, há algumas décadas, havia algum cuidado desse setores pra é proferir argumentos desse tipo. O que a gente nota é que cada vez mais, nesse último período – e talvez aí [esteja] relacionado com esse clima político, com essa onda crescente de discursos de extrema direita – isso aparece de uma forma muito escancarada”, avalia Natalia.

Ouça a entrevista completa no podcast O Assunto. O podcast O Assunto é produzido por: Mônica Mariotti, Amanda Polato, Tiago Aguiar, Gabriel de Campos, Luiz Felipe Silva, Thiago Kaczuroski, Eto Osclighter e Nayara Fernandes. Apresentação: Natuza Nery.