Trabalho escravo e extrativismo: entenda como a covid-19 pode impactar trabalhadores do setor

Redução da fiscalização ambiental por causa da pandemia pode elevar os índices de desmatamento na Amazônia; mais trabalhadores podem ser recrutados para trabalhar em frentes de trabalho ilegais. Fascículo “Trabalho escravo e extrativismo vegetal”, do Escravo, nem pensar!, explica o problema

Com a epidemia da covid-19 no Brasil, o governo federal diminuiu a fiscalização ambiental na Amazônia, já que parte dos agentes foi licenciada por ser do grupo de risco. A medida preocupou governadores da região Norte, como o Pará, que consideram o aumento dos índices de desmatamento. A redução das fiscalizações estimula crimes ambientais e trabalhistas, já que muitos trabalhadores são submetidos a condições degradantes nas atividades extrativistas.

O fascículo Trabalho escravo e extrativismo vegetal, do programa Escravo, nem pensar!, apresenta como isso acontece na cadeia de extração da madeira, em que os trabalhadores são explorados por madeireiros.

Foto: João Roberto Ripper

Na maioria dos casos, a atividade é a única possibilidade de renda para as famílias e trabalhadores, que vivem em assentamentos que dispõem de pouca ou nenhuma infraestrutura. Os patrões se aproveitam dessa condição de vulnerabilidade das comunidades assentadas para definir arbitrariamente o preço pago pelo que é extraído, além de cobrarem pela alimentação e equipamentos dos trabalhadores, criando uma dívida ilegal que é descontada do pagamento final. Nas frentes de trabalho, os extrativistas vivem em alojamento precário e, não raro, sofrem ameaças físicas e psicológicas.

Veja também: O especial “100 anos de servidão”, da Repórter Brasil, mostrou como acontece o trabalho escravo no corte da piaçaba, a palha da vassoura.

A prática do trabalho escravo se estende a outras atividades extrativistas, de norte a sul do Brasil. Muitas comunidades dependem exclusivamente da extração de produtos como o açaí, carnaúba, castanha-do-pará, erva-mate, palmito e piaçaba. Geralmente, esses artigos passam por intermediários, que impõem condições de compra e venda desvantajosas aos trabalhadores. O fascículo do ENP! desvela como se dão esses mecanismos perversos que tornam comunidades inteiras devedoras por anos a fio.

Veja também: O especial “Profissão madeireiro”, da Repórter Brasil, investigou os crimes da indústria ilegal de madeira na Amazônia, incluindo a exploração de trabalho escravo.

Desde 1995, mais de três mil pessoas foram resgatadas do trabalho escravo no extrativismo vegetal, o que representa cerca de 6% das mais de 50 mil libertadas em todas as atividades econômicas nesse período.