Tech Tudo (Globo): ‘Jogos podem ser pedagógicos’, diz coordenadora da ONG Repórter Brasil

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Um jogo pode ser engajado socialmente? No dia de aniversário de 126 anos da Lei Áurea, que libertou os escravos no império de D. Pedro II, 13 de maio, o Flux Game Studio lançou o jogo Escravo, Nem Pensar!, em parceria com a ONG Repórter Brasil. A organização não governamental apura casos de trabalhos análogos aos de escravidão e foi fundada em 2001 por um grupo de jornalistas, entre eles Leonardo Sakamoto. Para comentar sobre o game à coluna Geração Gamer, conversamos com Natalia Suzuki (31), coordenadora de conteúdo da ONG, e com o desenvolvedor Paulo Luis Santos (32). Confira.

V de Vinagre: game brinca com protestos de São Paulo e do Brasil

 

Flux Game Studio viabilizou um jogo da ONG Repórter Brasil, de Sakamoto (Foto: Divulgação)

Evolução em relação ao game V de Vinagre

O Flux Game Studio não é novato em jogos voltados para causas sociais. No auge dos protestos de junho de 2013 pela redução do preço das passagens de transporte público em todo Brasil, eles lançaram o jogo V de Vinagre, que foi notícia na coluna Geração Gamer da época.

“Este jogo é bem melhor que o Vinagre. Escravo, Nem Pensar! é um projeto com começo, meio e fim, mais complexo em todos os pontos de vista de desenvolvimento, desde arte, código, design, produção, áudio, conteúdo até narrativa. Alcançamos um resultado que deu orgulho e certamente alcançará seu objetivo de ampliar a conscientização sobre o tema, especialmente entre o público juvenil”, explica Paulo Luis Santos, responsável por validar toda a criação e autor da trilha-sonora. “Compus a trilha inteirinha com base em violão, que considero um instrumento mais simples e belo, que combina com este contexto de escravidão contemporânea”.

V de Vinagre foi outra empreitada do Flux Game Studio em jogos engajados socialmente (Foto: Divulgação)

V de Vinagre foi outra empreitada do Flux Game Studio em jogos engajados socialmente (Foto: Divulgação)

A aproximação entre Paulo e Natalia se deu ainda na faculdade, porque, antes de entrar no mercado de jogos, ele se formou em jornalismo na ECA-USP. “Nós dois estudamos juntos na USP. Quando ela me ligou para conversar sobre a possibilidade de abordar o tema por meio de um jogo digital, não poupei esforços para viabilizar o projeto dos pontos de vista financeiro, cronológico, pedagógico e lúdico”, completa o desenvolvedor.

O jogo lida com situações baseadas em casos reais do trabalho escravo no Brasil (Foto: Divulgação)

O jogo lida com situações baseadas em casos reais do trabalho escravo no Brasil (Foto: Divulgação)

“O Leonardo Sakamoto esteve envolvido dando ideias sobre como deveria ser o jogo, mas eu fui encarregada da coordenação do programa, criando o conteúdo do game, com roteiros e referências. Nós da Repórter Brasil e a desenvolvedora Flux temos uma relação excelente, e eles disseram que foi o melhor case da carreira deles”, nos explicou Natalia Suzuki.

Leonardo Sakamoto, Paulo Luis Santos e Natalia Suzuki participaram de maneiras diferentes do mesmo projeto de game (Foto: Arquivo Pessoal)

Leonardo Sakamoto, Paulo Luis Santos e Natalia Suzuki participaram de maneiras diferentes do mesmo projeto de game (Foto: Arquivo Pessoal)

Como foi a criação do jogo?

“Flux utiliza metodologia de desenvolvimento ágil SCRUM. Neste contexto, eu faço a função de diretor geral e criativo. Validei toda a produção, tomando decisões com dados da equipe. Participei da decisão que tomamos pelo game design básico, optando pelo gênero Point & Click, com uma história com partes clicáveis com o mouse. Tivemos a referência de Walking Dead da Telltale. O desenvolvimento detalhado, com puzzles, objetos, diálogos e escolhas, foi feito por nossa desenvolvedora Gabriela Queiroz”, afirma Paulo, dando informações preciosas sobre a iniciativa.

Equipe do Flux Game Studio, responsável por Escravo, Nem Pensar! (Foto: Arquivo Pessoal)

Equipe do Flux Game Studio, responsável por Escravo, Nem Pensar! (Foto: Arquivo Pessoal)

Paulo Luis Santos dá detalhes importantes sobre o desenvolvimento: “O desenvolvimento ocorreu entre meio de dezembro de 2013 e o fim de março, com envolvimento alternado de pessoas. No primeiro mês, de pré projeto, sequer mexemos em código, mas sim em escopo, planejamento, game design, features, pesquisa de ferramentas e soluções, direção de arte e alinhamento com a ONG. Em janeiro começamos a parte de criação pesada que terminou ao fim de março. Depois, fizemos muitos testes até chegar no dia de lançamento que celebrou a Abolição da Escravidão, uma ideia da Repórter Brasil e que consideramos um excelente gancho!”.

“Levamos três meses ao todo e fizemos todo o projeto voltado para o público infanto-juvenil, especialmente para quem frequenta escolas. A maior conquista dessa iniciativa foi concluí-la, fazendo tudo de uma maneira legal sem perder a seriedade”, complementa Natalia Suzuki. O jogo está disponível gratuitamente para download em computadores com sistemas windows.

Jogos engajados são educativos?

Natalia Suzuki tem um ponto de vista interessante sobre games, embora não jogue muito mesmo conhecendo-os desde os 9 anos: “Decidimos fazer este projeto após trabalhar 10 anos com comunicação. O jogo que fizemos é um entretenimento pedagógico, como um meio informativo para alunos de escolas, e eu acredito que os games devem ser assim. porque este público está em formação”.

“Alinhar um conteúdo tão complexo, detalhado e às vezes pesado foi bastante trabalhoso, mas a parceria com a ONG foi um espetáculo e o trabalho fluiu de forma impecável. O jogo tem muitas possibilidades de combinações de escolhas e puzzles. Até por isso, o game não é perfeito, porque faltam alguns polimentos. Mas conseguimos preparar um jogo multi-idiomas”, explica Paulo.

Jogo da Repórter Brasil lida com escolhas em situação de trabalho escravo (Foto: Divulgação)

Jogo da Repórter Brasil lida com escolhas em situação de trabalho escravo (Foto: Divulgação)

“Mídia digitais e jogos de tabuleiro são sempre formatos interessantes para divulgar causas de ONGs. Não seria diferente no caso da Repórter Brasil. A experiência nossa foi importante nesse processo de criação”, comenta Natalia.

O futuro dos games na opinião deles?

Para Natalia Suzuki, os jogos podem ter um objetivo: “Games são um recurso interessante a ponto de serem educacionais. A gente pode construir esses processos de criações e isso só tende a se expandir”.

Paulo tem uma visão diferente mais ampla: “Acredito que games estarão em todo lugar: das ONGs até os partidos políticos, das Igrejas às marcas de bens de consumo. Vejo os tipos de aplicação dos games crescendo muito, chegando até eventos, saúde, RH corporativo e religião. Mercados de nicho vão cada vez mais se utilizar dos games como ferramenta. Isso é uma oportunidade de crescimento da indústria de games no Brasil. Uma oportunidade que pode andar em paralelo, de mãos dadas, com os games autorais e independentes”.

Quer conhecer mais sobre Escravo, Nem Pensar? Veja o vídeo de divulgação abaixo: