Repórter Brasil previne trabalho escravo no Piauí

Projeto de formação continuada será desenvolvido na rede estadual de educação em 2025. Meta é alcançar 447 escolas de 94 municípios 

Entre os dias 18 e 20 de março de 2025, educadores da rede estadual de ensino do Piauí participaram da primeira etapa formativa do projeto Escravo, nem pensar! de prevenção ao trabalho escravo. A iniciativa, promovida pela ONG Repórter Brasil em conjunto com a Secretaria de Estado da Educação (Seduc-PI), ocorreu em Teresina e tem como objetivo capacitar profissionais da educação para desenvolverem projetos sobre o tema com estudantes e a comunidade. 

A ação conta com o apoio da Fundação Avina e a parceria da Confederação Nacional dos Trabalhadores Assalariados e Assalariadas Rurais (Contar), Comissão Estadual para a Erradicação do Trabalho Escravo e do Tráfico de Pessoas no Estado do Piauí (Coetrae-PI) e Comissão Pastoral da Terra. 

Roda de conversa com Edno Moura, procurador do Ministério Público do Trabalho. Foto: Repórter Brasil.

A formação é direcionada a gestores e técnicos de ensino de 11 Gerências Regionais de Educação (GREs) – unidades descentralizadas da Seduc-PI responsáveis pela administração de 447 unidades escolares localizadas em 94 municípios. Elas estão sediadas nos municípios de Teresina, Barras, Campo Maior, Oeiras, Picos, Uruçuí e Bom Jesus. 

Nessa primeira fase, a equipe da Repórter Brasil abordou temas como migração forçada, aliciamento e aspectos conceituais sobre trabalho escravo. Além disso, foram apresentadas experiências educativas e estratégias para disseminar informações sobre as temáticas nas escolas. O evento contou ainda com a presença de especialistas no combate ao trabalho escravo no Piauí, como o Ministério Público do Trabalho, a Secretaria da Assistência Social do Piauí (SASC-PI) e a Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Piauí (Fetag-PI). 

A metodologia do ENP! visa a transformar os gestores e técnicos das GREs em multiplicadores, qualificando-os a repassar os conteúdos do projeto para professores e estudantes. Estes, por sua vez, elaborarão experiências educacionais com as comunidades locais, ampliando a rede de prevenção ao trabalho escravo no estado. 

Trabalho escravo no Piauí

O Piauí é um estado estratégico para o combate ao trabalho escravo, já que a ocorrência do problema em seu território é frequente, mas também porque muitos piauienses migram para a exploração laboral em outros estados do Brasil. Entre 1995 e 2024, 1.666 trabalhadores foram escravizados em 109 casos flagrados no estado, colocando o na 11ª colocação no ranking nacional. Os dados são do Ministério do Trabalho e Emprego e foram sistematizados pela Repórter Brasil.

Dentre os casos de trabalho escravo no Piauí, 30% eram relacionados à agropecuária, o que inclui a criação de gado e o monocultivo de soja. As atividades relacionadas ao extrativismo vegetal, principalmente aquelas referentes à extração da palha de carnaúba, também concentram porcentagem importante dos casos (26%). 

Os piauienses estão entre os brasileiros que têm menos acesso à escolaridade, renda e saúde. O Piauí figura na 23ª colocação no ranking nacional por estado do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Não à toa, é de lá que migra parte significativa dos trabalhadores que acabam submetidos ao trabalho escravo. Cerca de 7% dos resgatados em todo o país são naturais do estado.