Pindaré-Mirim (MA) reafirma seu engajamento na prevenção ao trabalho escravo

Professores criaram uma comissão para planejar ações e elaborar projeto pedagógico

No dia 17 de setembro ocorreu o primeiro encontro de acompanhamento pedagógico em Pindaré-Mirim, município maranhense localizado a 255 km de São Luís. Os professores que participaram da formação sobre trabalho escravo em 2011 se reuniram para socializar as atividades desenvolvidas nas escolas, debater as dificuldades enfrentadas e receber novos materiais didáticos sobre trabalho escravo.

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Engajamento na prevenção ao trabalho escravo foi fortalecido

Algumas escolas narraram experiências positivas na abordagem da temática. Foi o caso das escolas municipais Joaquim Correa, João Silva, Ediane Silva e José Silvério Cavalcante, onde professores e alunos desenvolveram palestras, seminários, pesquisas no site da ONG Repórter Brasil, redações e uma peça teatral. A maior parte das atividades foram realizadas no ensino fundamental; já as disciplinas de História, Geografia e Matemática foram as mais atuantes.

Além da socialização das experiências escolares, o encontro foi marcado pela reafirmação do engajamento dos professores na prevenção ao trabalho escravo. Nesse sentido, a turma propôs coletivamente a criação de uma comissão municipal de professores para impulsionar as campanhas de prevenção.

A ideia é que esse grupo, formado por professores voluntários de 15 escolas do campo e da cidade, se reúna para debater e elaborar um esboço de projeto pedagógico municipal sobre o trabalho escravo para ser posto em prática no começo do próximo ano. As discussões partirão das escolas e a comissão terá a função de sistematizar as ideias, além de articular com a Secretaria Municipal de Educação a implementação e inserção no calendário escolar de Pindaré-Mirim.

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Visita à escola

Além disso, foi realizada uma visita à Escola Municipal João Silva para uma dinâmica e conversa com alunos que desenvolveram atividades didáticas sobre trabalho escravo. “Foi muito positivo ver como as crianças compreendem facilmente o tema e a sua relevância. De certa forma, já possuem referências cotidianas sobre tudo o que discutimos na formação e trazem isso para a sala de aula. Um aluno, por exemplo, contou que seu tio já tinha passado pela escravidão. Importante que a escola entre em contato com essa realidade e promova uma reflexão critíca”, avalia Thiago Casteli, educador do programa Escravo, nem pensar!.

Escravo, nem pensar! retornará mais duas vezes a Pindaré-Mirim, a cada seis meses, para acompanhar os desdobramentos das ações educativas no município, promover novas atividades pedagógicas e socializar materiais didáticos sobre o tema. Além disso, o programa estará em contato permanente com a comissão de professores, contribuindo com o seu desenvolvimento e subsidiando as ações que serão realizadas nas escolas.

O município e as ações de prevenção

Pindaré-Mirim, como tantos outros municípios maranhenses, assiste com frequência ao aliciamento de trabalhadores. Para se ter uma ideia geral do problema, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego, entre 2003 e 2009, 28% dos trabalhadores resgatados da escravidão contemporânea eram naturais do Maranhão, fato que lhe garante a inglória liderança nacional nesse quesito.

No município em questão, em épocas específicas, jovens e adultos são recrutados com promessas de bons salários no trabalho de corte da cana-de-açúcar e na coleta de maçãs no Sul e Sudeste do país. Promessas que nem sempre se confirmam e acabam eventualmente dando margem para o trabalho escravo. As principais características desse crime são as péssimas condições de alojamento, insalubridade generalizada, violência, ameaças, retenção de salário e dívidas ilegais que, no seu conjunto ou isoladamente, anulam a dignidade e a liberdade dos trabalhadores.

As campanhas educativas e informativas contribuem para a multiplicação de informações, alertando a população que esse crime existe e que a porta de entrada costuma ser o aliciamento, forma de contratação ilegal de trabalhadores prevista como crime no artigo 207 do Código Penal.

Por isso, a abordagem do trabalho escravo nas atividades escolares fortalece uma cultura de direitos e contribui para o engajamento contra a violação dos direitos humanos. A partir dos trabalhos nas escolas, alunos e professores refletem sobre a problemática, deixando a questão em evidência na comunidade. Por isso, nos municípios onde o aliciamento é crítico, a informação desempenha um papel de prevenção fundamental.

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Escravo, nem pensar! retornará mais duas vezes a Pindaré-Mirim, a cada seis meses, para acompanhar os desdobramentos das ações educativas no município, promover novas atividades pedagógicas e socializar materiais didáticos sobre o tema. Além disso, o programa estará em contato permanente com a comissão de professores, contribuindo com o seu desenvolvimento e subsidiando as ações que serão realizadas nas escolas.

Os próximos acompanhamentos pedagógicos acontecerão em Juína, no Mato Grosso e Avelino LopesCristalândia e Parnaguá, localizados no sul do Piauí.