Mais um município do Pará integra a luta contra o trabalho escravo
Depois de Mato Grosso e Maranhão, um novo município paraense se engaja em 2011 na rede de combate à escravidão. Entre os dias 26 e 30 de setembro, aconteceu a formação de educadores e lideranças em Novo Repartimento
Criação de projetos de desenvolvimento sustentável na Amazônia, criação de cooperativas para fortalecer a agricultura familiar, estabelecimento de leis mais severas e realização de campanhas de prevenção foram algumas das propostas apresentadas por professoras, professores e lideranças de Novo Repartimento (PA) como medidas para combater o trabalho escravo contemporâneo.
Entre os dias 26 e 30 de setembro, educadores e lideranças participaram de uma formação do “Escravo, nem pensar!” no município. Agora, são cinco os municípios do Pará que atuam na rede do “Escravo, nem pensar!”: Breu Branco, Marabá, Xinguara, Itupiranga e Novo Repartimento.
Entre 1995 e 2010, cerca de 12 mil trabalhadores foram libertados de frentes de trabalho no Estado, geralmente atuando na expansão da fronteira agrícola. A conversão da floresta em pastagem ou matéria-prima para carvoarias é uma realidade dessa região. Por isso, o Pará é um grande pólo de atração de trabalhadores. Muitos são aliciados com promessas enganosas de bom emprego e acabam explorados como mão de obra escrava.
Além do trabalho escravo, os participantes puderam discutir temas como trabalho infantil, exploração sexual, desmatamento,pecuária, questão agrária e violência no campo. Com muita sensibilidade e indignação, os professores e professoras também puderam colocar a realidade local no centro do debate. O município é marcado pelos grandes assentamentos e pela Terra Indígena Parakanã, mas possui casos de exploração de trabalho escravo em grandes fazendas. Atualmente, quatro fazendas flagradas cometendo o crime no município constam na “Lista Suja” organizada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Os agricultores enfrentam sérias dificuldades em relação a infra-estrutura dos assentamentos: estradas intransitáveis, linha de crédito restrita e falta de suporte técnico. Produzir respeitando o meio ambiente, escoar e comercializar alimentos têm se tornado um grande desafio. Assim, um território originalmente pensado para afirmar a permanência na terra e a agricultura familiar, hoje vem cedendo cada vez mais espaço para o desmatamento e expansão agropecuária. A discussão sobre trabalho escravo não deixou de ressaltar a necessidade de que cenários de vulnerabilidade na vida no campo como esse sejam revertidos.
Os membros da Comissão Pastoral da Terra de Itaituba e Tucuruí, Egídio Alves Sampaio, Sirlei Carneiro da Silva e Hilário Lopes Costa, participaram de roda de conversa em que relataram seu trabalho de apoio a agricultores e assentados no Estado. A participação da procuradora Bruna Bonfante, do Ministério Público do Trabalho em Marabá, trouxe aos participantes exemplos de ações que vêm sendo aplicadas na repressão ao trabalho escravo.
Após essa semana de formação, a turma terá ainda mais três encontros com a equipe do “Escravo, nem pensar!”, em um intervalo de seis meses cada, para compartilhar informações sobre atividades desenvolvidas nas escolas, projetos pedagógicos e ações nas comunidades, tendo como base os planos de ação formulados pelos próprios participantes.