Frei Henri: Quando a justiça não é somente um valor, mas um projeto de vida
Por Natália Suzuki, coordenadora do Escravo, nem pensar !
Em maio de 2012, Thiago Casteli e eu fizemos uma formação, pelo Escravo, nem pensar! da Repórter Brasil, sobre o trabalho escravo para professores no município paraense de Rio Maria, a 270 quilômetros de Marabá, um local emblemático para a luta dos direitos dos trabalhadores e a reforma agrária. Entre o final da década de 1980 e o início da de 1990, dois sindicalistas – João Canuto e Expedito Ribeiro de Souza – foram assassinados. Os crimes estão na conta de fazendeiros locais a quem desagradava o enfrentamento e a resistência desses dois líderes. A região de Rio Maria, o sul do Pará, é também onde se concentra o maior número de casos de trabalho escravo do país. A seleção do local para a formação do Escravo, nem pensar! tinha a ver com esse contexto.
Eu sabia que a equipe da Comissão Pastoral da Terra de Xinguara participaria da formação, mas não sabia que Frei Henri também estaria lá, quando tive a grata surpresa de vê-lo adentrando a biblioteca, onde se passava a formação e enquanto explicávamos o tema do tráfico de pessoas.
Nesse instante, a formação acabou. Qualquer conteúdo formativo, que pretendesse competir com a presença do frei, era desimportante. Afinal, quem melhor poderia falar sobre o trabalho escravo na região? Naquele momento, conhecia um homem que dedicara boa parte da sua vida a atender e, sobretudo, escutar trabalhadores e suas famílias. O único retorno que buscou para esse compromisso com o outro foi a justiça.
Henri testemunhara a exploração de trabalhadores e combateu incessantemente essa condição indigna, sendo por décadas a única assessoria jurídica da região para essas pessoas. Foi resistente e altivo ao enfrentar as ameaças de morte contra si. Ele compreendia que a Educação tinha a missão de transformar aquilo tudo e depositava enorme fé de que aquela realidade doída deveria e poderia ser outra.
No vídeo acima, ele enfatiza a admiração que sente pela Repórter Brasil e pelo trabalho formativo do Escravo, nem pensar!. Cher Frère, c’est bien le contraire.