Escravo, nem pensar! faz ação de prevenção ao trabalho escravo em 71 municípios do Maranhão
Mais de 40 mil pessoas são beneficiadas com projetos de combate ao trabalho escravo em escolas de sete regiões vulneráveis
Nos últimos dias 21 e 22 de junho, o programa Escravo, nem pensar!, da ONG Repórter Brasil, realizou a terceira e última formação presencial do projeto de formação de educadores no estado do Maranhão, voltado ao combate ao trabalho escravo no estado. O encontro aconteceu em São Luís, com 30 gestores e técnicos de formação de Unidades Regionais de Educação de Açailândia, Balsas, Codó, Imperatriz, Santa Inês, São João dos Patos e São Luís, que foram contempladas por essa iniciativa que contou com a parceria da Secretaria de Educação de Estado do Maranhão e com o apoio da Organização Internacional do Trabalho, da Catholic Relief Service, do Ministério Público do Trabalho e da LATAM Airlines.
O estado foi escolhido para a realização da ação por ser o principal emissor de migrantes que acabam explorados em outros lugares do Brasil. Além disso, o Maranhão ocupa a quinta posição em quantidade de trabalhadores resgatados dentro do seu território.
Desde setembro de 2015, esse grupo de educadores foi responsável pela multiplicação do tema do trabalho escravo e assuntos correlatos – como a migração, tráfico de pessoas e trabalho infantil – em 243 escolas de 71 municípios. Esses locais foram selecionados para a ação porque são as cidades de origem da maior parte dos trabalhadores maranhenses escravizados em outros estados do Brasil. Nessas regiões é também onde se concentram os casos de trabalho de escravo, principalmente em atividades como a pecuária, agricultura e carvoaria.
Durante dez meses, projetos educacionais de prevenção envolveram 37.553 alunos, além de 2.012 educadores, outros 418 profissionais das escolas e mais de oito mil pessoas da comunidade extracurricular, beneficiando, assim, mais de 47 mil pessoas. As escolas continuarão desenvolvendo atividades sobre o tema no segundo semestre, envolvendo mais pessoas e ampliando a prevenção desse crime.
“Não bastam medidas de repressão para erradicar o trabalho escravo. Ações de prevenção, especialmente em âmbito educacional, devem ser realizadas em comunidades vulneráveis, onde a exploração do trabalhador é naturalizada. É preciso preparar os jovens contra os riscos de relações de trabalho abusivas, mas principalmente informá-los sobre os seus direitos a partir de uma perspectiva de formação cidadã”, explica Natália Suzuki, coordenadora do programa Escravo, nem pensar!.
Na avaliação do secretário de Educação Felipe Camarão, “plantamos uma semente agora em 7 UREs, alcançando cidades importantes, com muitos alunos e professores envolvidos. Eu pude presenciar a culminância de alguns projetos e vi o envolvimento da comunidade escolar: pais, mães, professores, professoras, alunos e alunas. E o mais importante: saindo da capital e indo para os interiores, nas cidades que realmente mais fornecem esse trabalho análogo a condição de escravo.”
A gestora Luciana Borges Leocádio, gestora da URE de São João dos Patos, abordar o tema do trabalho escravo nas escolas revelou aspectos da realidade da região que eram pouco falados até então. “Quando nós levamos isso para as escolas, para os nossos alunos, percebemos o quanto isso mexeu com eles e com nossos professores. Foi um tema que a nossa URE e nossos alunos abraçaram.”
No último dia do encontro, o programa Escravo, nem pensar!, apresentou esses resultados do projeto em evento ao público em evento de encerramento. Na ocasião, estiveram presentes a representante do Programa de Combate ao Trabalho Escravo da Organização Internacional do Trabalho no Brasil, Larissa Lamera; a coordenadora do programa Escravo, nem pensar!, da ONG Repórter Brasil, Natália Suzuki; o secretário de Estado dos Direitos Humanos e Participação Popular, Francisco Gonçalves; o juiz federal do Trabalho, Manoel Veloso; o procurador do Trabalho, Maurel Selares, entre pesquisadores e profissionais ligados à área.