Escravo, nem pensar expande e fortalece ações no Pará
Programa educativo de prevenção ao trabalho escravo forma mais de 100 professores em dois municípios do sudeste do Pará
Entre os meses de maio e junho, o “Escravo, nem pensar!” realizou no Pará duas formações para professoras e professores e lideranças comunitárias a respeito do trabalho escravo contemporâneo e outros temas relacionados aos direitos humanos no campo. Com isso, o programa consolida formações em 47 municípios, sendo sete deles no próprio estado. A iniciativa contou com o apoio da Secretaria dos Direitos Humanos do Governo Federal e do Grupo de Articulação e Enfrentamento ao Trabalho Escravo no Pará (GAETE-PA).
Os municípios escolhidos foram Rio Maria e Eldorado dos Carajás, na região sudeste paraense. Ambos carregam uma história recente de intenso conflito e violência no campo e estão situados no “Arco do Desmatamento”, onde a fronteira agrícola avança em direção à Amazônia. Nessa região, há utilização frequente de mão de obra escrava no desmatamento e na manutenção de pastagens.
No ranking nacional dos municípios flagrados com trabalho escravo entre 2000 e 2011, Eldorado dos Carajás ocupa o 26º lugar, com 19 casos de libertações e 105 trabalhadores libertados, e Rio Maria ocupa o 32º lugar, com 17 casos e 155 trabalhadores libertados, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra. O fato de existirem muitos assentamentos e acampamentos na região cercados por grandes fazendas contribuiu para a escolha dos locais para a realização da formação, já que a população rural está mais exposta ao aliciamento para frentes de trabalho nessas propriedades.
As experiências
A formação de Rio Maria aconteceu entre os dias 7 e 11 de maio. A turma foi composta por professoras e professores, gestores da Secretaria Municipal de Educação e agentes da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em Xinguara. Alguns professoras atuam no Comitê Rio Maria, entidade local que luta pelos direitos humanos no campo.
Durante a formação, tivemos também a participação do juiz do Trabalho de Marabá Jonatas Andrade, que pôde aprofundar a discussão sobre os instrumentos jurídicos utilizados no combate ao trabalho escravo. Por sua vez, os professores Nélio Pereira Coelho e Marisa de Fátima Macedo de Xinguara compartilharam a experiência e os resultados do projeto sobre trabalho escravo realizado pela Escola Municipal Ciranda Cirandinha, em 2011, apresentando possibilidades para o desenvolvimento de ações que abordem o tema do trabalho escravo nas escolas. Esse município recebeu formação do programa em 2006 e 2010.
Segundo Natália Suzuki, coordenadora do programa, “os professoras e professores se identificaram muito com as pautas dos direitos humanos, o que nos remete à trajetória de luta social local, marcada principalmente por conflitos pela terra nas décadas de 1980 e 1990. O município conta com uma disciplina de direitos humanos no currículo municipal. Por isso, a formação teve um papel de sistematizar e reforçar esses valores e práticas educativas.”
Em seguida, realizamos a formação entre os dias 28 de maio e 01 de junho em Eldorado dos Carajás, município que carrega a ferida aberta do massacre de 19 trabalhadores rurais, mortos pela Polícia Militar em 1996. Além dos conflitos agrários que persistem até hoje, a forte presença de assentamentos e acampamentos rurais dedicados à agricultura familiar é marca da realidade local.
“As discussões pedagógicas produziram momentos de intercâmbio entre a turma e os educadores. As quarenta horas de discussões, atividades, dinâmicas, apresentações culturais e trabalho em grupo foram apenas o pontapé inicial das ações de educação e prevenção no município”, afirma Thiago Casteli, educador do programa.
Os professoras e professores demonstraram grande interesse pelo conteúdo das formações e, como já trabalham com temas ligados à justiça social no campo, planejam ações para os próximos meses voltados à prevenção ao trabalho escravo nas escolas e nas comunidades da região. Secretaria Municipal de Educação deve colocar o trabalho escravo como pauta para o desenvolvimento de projetos já no segundo semestre de 2012.
Nessa formação, contamos com a participação da Comissão Pastoral da Terra e do Ministério Público do Trabalho em Marabá, e da professora Juraci Alves, que já desenvolve ações educativas sobre o trabalho escravo na Escola Municipal Pedro Valle, na zona rural de Marabá. Sua comunidade realizou, em 2010 e 2011, dois projetos pedagógicos com foco na prevenção e no fortalecimento dos valores do campo.
Após a formação, a equipe do “Escravo, nem pensar!” retornará três vezes aos municípios, a cada seis meses, para acompanhar as ações e realizar novas atividades pedagógicas. Em agosto, o programa realizará uma formação de professores e professoras em Pacajá, também no Pará, além dos encontros de acompanhamento com professoras e professores em Itupiranga, Novo Repartimento e Xinguara.
Veja mais detalhes clicando em Rio Maria e Eldorado dos Carajás.