TO se mobiliza contra o trabalho escravo
Profissionais da Educação participaram de formação do Escravo, nem pensar! sobre o tema do trabalho escravo em Palmas para a implementação do projeto em 361 escolas de 100 municípios tocantinenses
Entre os dias 10 e 12 de abril, o programa Escravo, nem pensar!, da ONG Repórter Brasil, em parceria com a Secretaria de Estado da Educação, Juventude e Esportes do Tocantins (Seduc), realizou em Palmas a primeira formação presencial para profissionais da Educação da rede estadual dedicada ao tema do trabalho escravo e assuntos correlatos.
Nessa primeira etapa do projeto foram formados 40 servidores, entre técnicos da Seduc e gestores e técnicos das Diretorias Regionais de Educação (DRE) de Araguaína, Araguatins, Colinas do Tocantins, Gurupi, Palmas, Paraíso do Tocantins, Porto Nacional e Tocantinópolis. Esses profissionais serão responsáveis pela multiplicação dos conteúdos abordados para os educadores de 361 escolas estaduais localizadas em 100 municípios jurisdicionados às 8 DREs participantes. Além dos profissionais da Educação, também compareceu ao evento uma técnica do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador, equipamento ligado à Secretaria de Estado da Saúde.
Na formação, o público participou de atividades pedagógicas, debates, exibição e análise de material impresso e audiovisual e tiveram acesso à metodologia pedagógica do Escravo, nem pensar! para a disseminação do tema nas escolas. Cada participante recebeu um kit de materiais didáticos específicos sobre os temas abordados. O Escravo, nem pensar! também disponibilizou um kit para cada uma das escolas envolvidas no projeto.
“A abordagem do trabalho escravo contemporâneo é pertinente para as escolas do Tocantins, pois a maioria dos nossos alunos está em situação de risco social, passíveis de serem aliciados”, destaca Wesliane de Souza, técnica pedagógica da DRE de Paraíso do Tocantins.
Os participantes também contaram com a presença do procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho (MPT) no Distrito Federal e Tocantins Erlan Peixoto, que contribuiu com experiências pessoais de combate ao trabalho escravo contemporâneo e detalhou as atribuições do MPT no enfrentamento ao crime. O órgão é apoiador do projeto.
Durante toda a execução do projeto, o Escravo, nem pensar! fornecerá assessoria pedagógica à distância aos profissionais formados. Além disso, estão previstos mais dois encontros presenciais ao longo de 2018, nos quais serão debatidos temas correlatos ao trabalho escravo, como tráfico de pessoas, trabalho infantil e o desmatamento da Amazônia. O próximo encontro formativo está previsto para agosto.
“O projeto incidirá nos municípios tocantinenses mais vulneráveis ao aliciamento de trabalhadores para o trabalho escravo. Além disso, a ação atende a metas dos Planos Nacional[1] e Estadual[2] para a Erradicação do Trabalho Escravo”, afirma Natalia Suzuki, coordenadora do programa Escravo, nem pensar!.
Trabalho escravo no Tocantins
O Tocantins é o sétimo colocado no ranking nacional de trabalhadores resgatados do trabalho escravo (3.044 resgatados). Na região Norte, o estado ocupa o 2º lugar[3]. O crime está intimamente ligado a atividades rurais, sobretudo em manutenção de propriedades agropecuárias e produção de grãos, como a soja. O estado também registra alto índice em carvoarias.
O problema não se limita a uma determinada região, mas está disseminado pelo estado. Dos 139 municípios tocantinenses, 81 (58%) já tiveram casos de trabalho escravo registrados, o que torna o estado o terceiro com o maior número de municípios onde a violação já ocorreu, logo atrás de Minas Gerais (92) e Mato Grosso (86).
[1] “Promover o desenvolvimento do programa “Escravo, nem pensar!” de capacitação de professores e lideranças populares para o combate ao trabalho escravo, nos estados em que ele é ação do Plano Estadual para a Erradicação do Trabalho Escravo” – meta 41.
[2] “Implementar o projeto ‘Escravo, nem pensar!’ visando a capacitação de professores e lideranças comunitárias em torno do tema” – meta 5.2.4.
[3] Os dados são do Ministério do Trabalho, somados a apurações e sistematização realizadas pela Comissão Pastoral da Terra.