Escravo, nem pensar! inicia projeto de prevenção ao trabalho escravo no MT
Ação atende a metas das políticas públicas nacional e estadual do Mato Grosso para a erradicação do trabalho escravo
No último dia 11 de abril, a ONG Repórter Brasil lançou o projeto “Escravo, nem pensar! no Mato Grosso – 2022”, o segundo estado com maior número de trabalhadores resgatados no país. A ação é realizada conjuntamente com a Secretaria de Estado da Educação do Mato Grosso (Seduc-MT) e direcionada a educadores da rede estadual de ensino de oito Diretorias Regionais de Ensino (DRE), responsáveis pela administração de 382 escolas de 67 municípios mato-grossenses. O objetivo da iniciativa é reduzir o aliciamento e os casos de trabalho escravo em comunidades vulneráveis. O projeto conta com a parceria dos órgãos do poder público e de entidades da sociedade civil que compõem a Comissão Estadual para Erradicação do Trabalho Escravo (Coetrae-MT).
A primeira etapa do projeto contou com a realização de um módulo formativo presencial, entre os dias 11 e 13 de abril. Ao longo do ano, ocorrerão outros dois módulos presenciais, além de acompanhamento pedagógico realizado à distância pelo Escravo, nem pensar! junto às instituições de ensino.
No evento de abertura, ocorrido no dia 11, a secretária adjunta de gestão educacional da Seduc-MT, Valdelice de Oliveira Holanda, destacou a importância do projeto no estado. “Nós temos essa grande responsabilidade: fortalecer todas as parcerias possíveis e proporcionar escolaridade suficiente para que as pessoas tenham outras perspectivas e outros projetos de vida.” A importância da educação foi também apontada por Kelly Pellizari, coordenadora do Projeto Ação Integrada na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). A pesquisadora lembrou que “muitos trabalhadores vítimas de trabalho escravo afirmam que estão dando hoje para os filhos a oportunidade de estudar para que eles não se tornem escravos”.
Para além da informação que pode ser multiplicada no ambiente escolar, a conscientização da sociedade sobre o tema também foi destacada. “O combate ao trabalho escravo não pode se restringir à repressão. É importante que se discuta o tema na sociedade”, apontou Amarildo Oliveira, presidente da Coetrae-MT. Para Danilo Nunes Vasconcelos, procurador-chefe da Procuradoria Regional do Trabalho da 23ª Região, “a prevenção é a forma de verdadeiramente extinguir esse fenômeno do nosso estado. E é a partir da educação desses trabalhadores, dessas famílias”.
A educação, além de fornecer mais possibilidades de trabalho a cada pessoa, também permite que elas tenham condições de identificar situações exploratórias. “Temos que questionar: isso é normal? Por que eu achava que isso era correto? A gente precisa fazer esse tipo de reflexão”, enfatizou Eduardo de Sousa Maria, superintendente regional do trabalho em Mato Grosso. Nesse sentido, o “Escravo, nem pensar!” associa-se às ações já encaminhadas na região, como a realizada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). Para Wellington Rodrigues, coordenador da entidade no MT, “o projeto fortalece as iniciativas tanto da Coetrae-MT quanto da própria CPT, que muito antes do reconhecimento da existência do trabalho escravo já denunciava essa prática criminosa”.
O Mato Grosso é um estado estratégico para a política nacional de combate ao trabalho escravo. “Implementar essa ação cumpre metas dos planos nacional e estadual do Mato Grosso para a erradicação do trabalho escravo. A prevenção é a única forma de evitar que o trabalhador e a trabalhadora passem por essa situação traumática e violadora de direitos humanos”, afirma Natália Suzuki, coordenadora do programa Escravo, nem pensar!, da ONG Repórter Brasil.
Escravo, nem pensar! no Mato Grosso entre 2007 e 2015
Entre 2007 e 2015, o programa Escravo, nem pensar! implementou e apoiou iniciativas de prevenção ao trabalho escravo no estado, alcançando um total de 34.565 beneficiários. Esses projetos contaram com a parceria de Secretarias Municipais de Ensino e com participação da Seduc. Para saber mais sobre algumas dessas experiências, consulte a cartilha Experiências Comunitárias de Combate ao Trabalho Escravo e Tráfico de Pessoas 2015.