À Espera: a vida de uma mulher de Angola em São Paulo
Animação do Escravo, nem pensar! traz a história de imigrante africana
Por Natália Suzuki, coordenadora do programa Escravo, nem pensar!
Angelina é uma mulher fictícia, ou seja, sua história é baseada em fatos reais, mas nem por isso inverossímil. Ela é a protagonista da animação À Espera, do programa Escravo, nem pensar! da Repórter Brasil, e representa uma mulher angolana, negra e imigrante, que vive no Brasil já alguns anos com seus filhos pequenos.
A animação foi realizada com o apoio do Instituto C&A, no âmbito do projeto “Escravo, nem pensar!: Direito do migrante e prevenção ao trabalho escravo e infantil”.
Você deve estar se perguntando por que escolhemos contar a história de uma angolana, enquanto as atenções se voltam hoje a chegada e interiorização dos venezuelanos e ainda não esquecemos da vinda intensa de sírios e haitianos ao Brasil.
A história de Angelina é semelhante a várias que ouvimos entre 2017 e 2019, período em que o programa Escravo, nem pensar! trabalhou com a rede pública de Assistência Social do município de São Paulo. As profissionais da área relatavam a chegada à cidade de mulheres de Angola, com filhos pequenos e, muitas vezes, gestantes. No geral, não possuíam qualquer vínculo prévio no país e batiam às portas dos equipamentos socioassistenciais em busca de moradia e acolhida.
Por que deixavam o seu país? Como e por que vinham ao Brasil? Quem são elas?
Essas questões se tornaram recorrentes para nós, e percebemos que o poder público também não tinha as respostas, ainda que as atendesse em centros de acolhida e as incluísse em programas sociais ou matriculasse os seus filhos nas escolas. Diante disso, acreditamos ser urgente trazer luz para as histórias de Angelinas. Precisamos falar delas. Elas existem em São Paulo e a sua presença deve se fazer notada, por isso convidamos você a saber mais sobre elas.
Megalópoles como São Paulo nos colocam cotidianamente com dezenas, às vezes, centenas de pessoas lado a lado e, ainda assim, podemos passar o dia sem trocar uma palavra ou um olhar sequer com alguém. Histórias de imigrantes costumam ser interessantes e comoventes. São interessantes porque conseguimos romper o anonimato e são comoventes porque nos identificamos e criamos empatia numa alteridade que vem de longe e que nunca desconfiamos um dia conhecer.
A voz da Angelina
Conheça a cantora Jéssica Areias, quem deu o sopro da vida à Angelina:
Como dar vida à Angelina? Para isso, precisávamos dar voz à protagonista. Havia de ser uma mulher que falasse o português angolano e, sobretudo, tivesse uma entonação clara e conseguisse transmitir todos os sentimentos da personagem. Onde e como encontrar uma pessoa com essas características?
Quando o desafio surgiu, lembrei-me de ter ouvido no rádio a programação cultural de São Paulo de um final de semana qualquer. Naquele dia, uma das grandes atrações seria o show de uma cantora angolana, Jéssica Areias. Ao contatá-la, Areias prontamente atendeu ao convite e nos honrou com a sua participação. Sem ela, Angelina não existiria assim, tão especial e emocionante.