Grupos na luta pela terra participam de formação

Representantes de diversos grupos no Tocantins relataram violência por parte de fazendeiros e do Estado

Acampamento Vitória recebeu os participantes Crédito: Arquivo Repórter Brasil

Acampamento Vitória recebeu os participantes
Crédito: Arquivo Repórter Brasil

Nos dias 1 e 2 de maio, aconteceu o Encontro de Formação de Posseiros e Acampados no acampamento Vitória e no assentamento Santo Antonio, localizados em Palmeirante, no Tocantins. O encontro, promovido pela Comissão Pastoral da Terra com apoio da Repórter Brasil, teve como tema “Agronegócio e violência no campo” e reuniu trabalhadores e trabalhadoras de sete grupos da região acompanhados pela entidade em sua caminhada na luta pela terra.

Os depoimentos dos participantes foram marcantes, mostrando violência e impunidade de um lado, e resistência de outro. O acampamento Bom Jesus, espaço de formação do “Escravo, nem pensar!”, enviou cinco representantes.

 

Grupo do acampamento Bom Jesus narra sua história Crédito: Arquivo Repórter Brasil

Grupo do acampamento Bom Jesus narra sua história
Crédito: Arquivo Repórter Brasil

Durante o encontro, foram narrados os históricos de cada grupo:

Acampamento Bom Jesus
Despejo, ameaças, pistolagem, queima de roças, ação da polícia em favor do fazendeiro, assassinato de Gabriel Vicente de Souza Filho

Acampamento Vitória
Pistolagem, ameaças, tiros contra o acampamento

Assentamento Guariroba
Queima de barracos, prisões, ameaças

Assentamento Santo Antonio do Bom Sossego
Despejo por pistoleiros, queima de barracos, ameaças, ação da polícia em favor da fazendeira, tiros

Fazenda Boa Esperança
Despejo ilegal com participação da polícia, ameaças por parte da polícia

 

Fazenda Capelinha
Pistolagem, tiros, expulsão

Taboca
Queima de barracos e de roças, quatro tiroteios e expulsões, um trabalhador baleado

Agronegócio e violência

A partir da temática proposta no encontro, os participantes foram divididos em três grupos para que fizessem colagens inspirados pela questão: qual ideia possuem de agronegócio?

Grupo Frutas
O grupo apresentou imagens de frutos para expressar as ideias: plantar para poder colher; imagens da agricultura familiar simbolizando “nosso” trabalho; e colocou o agronegócio como o projeto do Brasil: “quando é em exagero é agronegócio, quando não é, somos nós”.

Grupo Terra
O grupo colocou que o dinheiro fica concentrado nas grandes empresas e nos grandes projetos; em Brasília os políticos só defendem seus interesses; e é um grande “sufocamento”: grandes empresas têm acesso à tecnologia e ao maquinário, e as melhores condições são voltadas ao agronegócio. “Nós ficamos de pequenininhos, o chapéu de palha na cabeça, sem acesso. Quando uma nota chega pra gente, já vem amassada do bolso dos outros”, disseram.

Grupo Água
Para o grupo, política é sinônimo de agronegócio (e usaram imagem do ex-presidente Lula para ilustrar); não se investe no pequeno e na reforma agrária. Trouxeram a imagem de uma carvoaria, para incluir a problemática do trabalho escravo.

Grupo apresenta ideias sobre agronegócio Crédito: Arquivo Repórter Brasil

Grupo apresenta ideias sobre agronegócio
Crédito: Arquivo Repórter Brasil

Grupo Semente
O grupo apresentou imagem de inseminação artificial para representar o grande produtor rural: só o grande tem direito de criar gado, porque o pobre não pode possuir um pedaço de terra para sustentar a família.

Os trabalhadores e trabalhadoras assistiram na noite anterior ao documentário “Nas Terras do Bem Virá”, em que o padre Ricardo Rezende, que integrava a equipe da CPT no sul do Pará, relata casos em que trabalhadores assassinados nos anos 70 em fazenda foram enterrados como cachorros. “Fica firme, não desanima. O filme mexeu muito comigo, o trabalhador ser enterrado como cachorro. Meu deus, não há justiça”, resumiu uma das integrantes do grupo, fazendo alusão ao filme. “Nós não somos vistos, somos cachorros no meio dos ricos”.

Grande encontro

Foi muito positivo reunir representantes de diferentes grupos que vêm enfrentando a mesma situação de luta pela terra. Os participantes apontaram que, no encontro, foi possível: ver caminhos possíveis; trabalho conjunto; conhecer outras pessoas e outras situações; preparar-se melhor para poder se defender; realizar articulações; ter mais força para lutar; perceber que “não estamos sozinhos na caminhada”; dificuldades coletivas têm que ter soluções coletivas. O grupo ainda agradeceu ao acampamento Vitória e ao assentamento Santo Antonio o espaço ofertado, a acolhida e a solidariedade, com presença importante da mística, da palavra e da poesia no encontro.