Escravo, nem pensar! inicia ação inédita no oeste do Pará

Projeto de prevenção ao trabalho escravo será implementado em escolas de municípios da região do Tapajós. Unidades de assistência social de Santarém (PA) também fazem parte da ação

Nos dias 8 a 10 de outubro, aconteceu em Santarém (PA) o primeiro encontro formativo do projeto de formação continuada Escravo, nem pensar! no Oeste do Pará, iniciativa da ONG Repórter Brasil, com apoio do Ministério Público do Trabalho, para a prevenção do trabalho escravo na região. A formação tem como objetivo disseminar informações a respeito dessa violação nas escolas municipais de Santarém, Itaituba, Monte Alegre e Óbidos e nas unidades de Assistência Social de Santarém.

No encontro foram abordados assuntos relacionados ao trabalho escravo, como desmatamento e queimadas ilegais na Amazônia

“O estado do Pará é campeão nos índices de trabalho escravo, mas os casos normalmente se encontram registrados no sul e sudeste do estado. Na região oeste, o problema é presente, mas ainda muito invisível para as autoridades públicas, que concentram a fiscalização em outras regiões do Pará, e também para a sociedade, que considera formas de exploração laboral como naturais. É preciso desconstruir essas práticas e compreender que o trabalho escravo é uma violação de direitos humanos inaceitável”, explica Natália Suzuki, coordenadora do projeto Escravo, nem pensar!,

Esta ação, inédita no oeste do Pará, é estratégica para o enfrentamento ao trabalho escravo no estado. A região é marcada atualmente pela intensificação do desmatamento da floresta amazônica, processo decorrente das queimadas ilegais da mata nativa. O crime ambiental possui estreita relação com o trabalho escravo, visto que os trabalhadores designados para cumprir essas atividades são geralmente submetidos a condições degradantes de trabalho e outras formas de exploração por parte de madeireiros.

Os participantes discutiram estratégias para a abordagem do trabalho escravo nas escolas e unidades de assistência social

“Precisamos conscientizar nossos alunos para que não sejam vítimas de trabalho escravo, para que conheçam seus direitos”, destaca Marília Raquel Gama de Azevedo, coordenadora pedagógica da Escola Padre Manuel Albuquerque, localizada em Santarém. Além do tema do trabalho escravo, o projeto abordará questões correlatas, como o trabalho infantil, o tráfico de pessoas e, sobretudo, a imigração. Atualmente, Santarém recebe um fluxo migratório relevante de venezuelanos, dentre os quais estão incluídos os índios da etnia Warao. “[O trabalho escravo] é uma temática de suma importância para nossos colaboradores e usuários, devido ao fato de o nosso trabalho ser desenvolvido com pessoas em situação de vulnerabilidade social”, afirma Vanderléia da Silva Ferreira, coordenadora do Cras São José Operário.

Sobre o projeto

Participam do projeto representantes das secretarias municipais de Educação de Óbidos, Monte Alegre, Itaituba e Santarém e coordenadores pedagógicos de oito escolas municipais de Santarém. Também estão envolvidos servidores da Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social de Santarém, por meio dos departamentos de Proteção Social Básica, Proteção Social Especial e dos Cras (Centro de Referência de Assistência Social), Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) e serviços conveniados da rede municipal, compreendendo 33 participantes ao todo. A formação conta ainda com a parceria das equipes da Comissão Pastoral da Terra de Itaituba e Santarém.


Cada escola participante receberá materiais didáticos sobre o tema do trabalho escravo e assuntos correlatos, como desmatamento e migração

Os profissionais formados pelo Escravo, nem pensar! serão responsáveis por multiplicar os conteúdos sobre trabalho escravo e assuntos correlatos abordados na formação para as respectivas escolas e unidades de Assistência Social. O projeto ainda contará com mais dois encontros formativos presenciais, a serem realizados em 2020. Durante esse período, os participantes receberão assessoria pedagógica à distância da equipe do programa Escravo, nem pensar!. 

Prevenção ao trabalho escravo no Pará

A Repórter Brasil atua no Pará, por meio do Escravo, nem pensar!, desde 2006. Em sua última ação no estado, realizada em 2016 e 2017, foram prevenidas mais de 250 mil pessoas do trabalho escravo, entre alunos, professores, demais funcionários de escolas e comunidade. A ação foi implementada em 295 escolas de 47 municípios paraenses. (Saiba mais clicando aqui). O Pará é o estado campeão em casos de trabalho escravo no Brasil. Desde 1995, cerca de 13 mil trabalhadores foram libertados dessa condição no estado, em atividades como pecuária, produção de carvão e desmatamento.