Escolas e comunidades na luta contra o trabalho escravo

Em oficina realizada no Fórum Pan Amazônico, educadoras do Pará e do Maranhão compartilharam experiências desenvolvidas nas escolas para prevenir o trabalho escravo

No último Fórum Pan Amazônico realizado em Santarém, no Pará, o “Escravo, nem pensar!”, a Comissão Pastoral da Terra e o Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de Açailândia promoveram a oficina auto-gestionada “Escolas e comunidades na luta contra o trabalho escravo”, no dia 26 de novembro. O objetivo era compartilhar e debater experiências realizadas por educadores e educadoras, junto com seus alunos e alunas, para prevenir o aliciamento ao trabalho escravo.

Durante a oficina, quatro educadoras apresentaram ações desenvolvidas. Refletimos sobre as resistências e os apoios encontrados durante a realização das atividades propostas pelas escolas, sobre como a escola pode se tornar um espaço de discussão de direitos e de reflexões para a mobilização social e para a transformação da realidade, e sobre a importância da institucionalização do tema do trabalho escravo nos conteúdos programáticos pelas secretarias de educação.

Com as experiências, pudemos perceber alguns resultados importantes, como o espaço da escola se tornar referência para a discussão sobre trabalho escravo e para os trabalhadores se informarem sobre seus direitos, além do reconhecimento do problema pela comunidade e sua consciência da importância de combatê-lo.

As experiências apresentadas 

 Apresentação do projeto da Escola Municipal  Pedro Valle, de Marabá Crédito: Arquivo Repórter Brasil

Apresentação do projeto da Escola Municipal
Pedro Valle, de Marabá
Crédito: Arquivo Repórter Brasil

Juraci Vieira, da Escola Municipal Pedro Valle, localizada em um assentamento de Marabá, no Pará, trouxe a experiência do projeto “Trabalho escravo: esclarecer, educar e transformar”, que mobilizou toda a escola na preparação da peça de teatro “Esperança Perdida”, apresentada em nove assentamentos e transformada em filme. Segundo Juraci, muitas das pessoas que assistiram às apresentações se emocionaram por reconhecerem que já tinham enfrentado situações de trabalho escravo sem saber, e as considerado normais. A escola também ofereceu oficinas de artesanato com materiais recicláveis como alternativa de geração de renda para pais de alunos.

Maria Neide Moraes, da Escola Estadual Liberdade, localizada no bairro periférico de mesmo nome na cidade de Marabá, no Pará, apresentou o projeto “Construindo novas relações de trabalho na cidade de Marabá”. Durante o ano todo, a escola desenvolveu atividades interdisciplinares para debater diversos aspectos relacionados ao tema, como migração, exploração sexual, questão agrária, atividades econômicas, conseqüências para a saúde do trabalhador, entre tantos outros. A culminância contou com a participação 1.500 pessoas da comunidade.

Outra professora do Pará, Genilse Ribeiro, mostrou a experiência de Breu Branco, onde educadores e educadoras, junto com a CPT de Tucuruí, organizaram um grupo de trabalho para promoverem atividades sobre trabalho escravo. Neste ano, foi realizado um concurso envolvendo diversas escolas do município na produção de desenhos, poemas e textos.

Por fim, a professora Elbna Ferreira de Carvalho apresentou o projeto “Educar para conscientizar, combater e formar. Literatura: a arte que imita a vida”, realizado em Santa Luzia pelo Sindicato dos Trabalhadores da Educação. Foram realizadas formações em onze escolas que participaram de um concurso envolvendo alunos do Ensino Infantil e do Ensino Fundamental na produção de desenhos, poesias e crônicas. O resultado foi publicado em uma coletânea.

A apresentação das educadoras presentes foi emocionante pelo engajamento que demonstraram com o combate ao trabalho escravo, vencendo resistências e transformando a maneira de seus alunos, alunas e comunidades olharem o problema.