Educadores de Campinas se engajam na prevenção ao trabalho escravo contemporâneo

Formação do programa Escravo, nem pensar! fornece materiais didáticos e conteúdo especializado para a abordagem do tema em sala de aula. Segundo maior município do estado, Campinas ocupa o quinto lugar no ranking  de municípios paulistas com casos de trabalho escravo

Nos dias 25 e 26 de agosto, aconteceu o primeiro encontro da formação continuada Escravo, nem pensar! de prevenção ao trabalho escravo em Campinas (SP) – 2016/2017. A atividade foi direcionada a coordenadores pedagógicos que agirão como multiplicadores dos conteúdos e dos materiais didáticos em 59 escolas estaduais. O objetivo é promover atividades educativas sobre o trabalho escravo contemporâneo e seus temas correlatos em sala de aula, de forma articulada aos conteúdos curriculares. A ação conta com o apoio do Ministério Público do Trabalho – 2ª região (São Paulo) e a parceria da Diretoria de Ensino Campinas Oeste.

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Educadores reunidos após a formação – Foto: Equipe ENP!

Neste primeiro encontro, a equipe do programa abordou o trabalho escravo contemporâneo relacionado à migração forçada, ao aliciamento e ao tráfico de pessoas. Além de traçar um panorama das ocorrências desse crime em todo o Brasil, foram destacados os registros no estado de São Paulo, especialmente, na construção civil e no setor têxtil. O encontro teve a participação de Fábio Custódio, representante da Secretaria Municipal de Cidadania, Assistência e Inclusão Social, que apresentou um panorama das novas comunidades de imigrantes em Campinas e as ações implementadas para garantir a elas direitos sociais básicos e o acesso ao trabalho decente.

Em termos metodológicos, as 16 horas de atividades foram estruturadas em torno de dinâmicas pedagógicas, exposição dialogada, construção de cartazes e análise de vídeos e músicas. Cada coordenador pedagógico recebeu dois kits de materiais didáticos ENP! – que contêm publicações impressas e subsídios digitais -, sendo um para uso próprio nas atividades de formação interna com os professores e outro para ser integrada ao acervo permanente das escolas, tornando-se referência básica para estudos e pesquisas dos alunos.

Além disso, o programa forneceu documentos específicos para essa formação, com orientações metodológicas para o processo de multiplicação nas escolas. “A equipe de formação do Programa Escravo, nem pensar! trouxe diferentes estratégias formativas para abordagem do projeto. Avaliamos de forma positiva esta parceria e estamos com grandes expectativas sobre as ações a serem desenvolvidas pelas nossas escolas”, destacou Aírton Clementino, responsável pelo Núcleo Pedagógico da DE Campinas Oeste.

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Dinâmica sobre migração interna – Foto: Equipe ENP!

Na opinião de Natália Suzuki, coordenadora do programa, a formação em Campinas representa um avanço estratégico na prevenção ao trabalho escravo, pois por meio dela “fomenta-se a discussão em um município marcado pela expansão da construção civil – setor de atração de migrantes. Com isso, cria-se uma rede de vigilância e de acolhimento aos trabalhadores que eventualmente possam se encontrar em condições de privação de liberdade e anulação de dignidade, como prevê o artigo 149 do Código Penal.” O município ocupa o quinto lugar no ranking de municípios paulistas com registro de trabalho escravo entre 2003 e 2014, com dois casos e 47 trabalhadores libertados, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra.

Em novembro, acontecerá um encontro de monitoramento para a avaliação dos resultados parciais da multiplicação do projeto nas escolas e assessoria pedagógica por parte do programa. As escolas realizarão atividades educativas até maio de 2017, quando haverá o terceiro e último encontro presencial da formação. “Os objetivos do projeto vão ao encontro dos conteúdos e princípios do Currículo Oficial do Estado de São Paulo. Os temas abordados durante a formação são recorrentes nas diferentes disciplinas trabalhadas em sala de aula. Podemos afirmar que este projeto deveria ser disseminado em toda a rede, e não apenas nas escolas da Diretoria de Ensino Campinas Oeste”, avaliou Aírton.

No estado de São Paulo, o programa Escravo, nem pensar! já realizou oficinas pedagógicas em Guariba, Pradópolis, Sertãozinho e iniciou, neste ano, uma formação continuada para educadores da rede municipal da capital paulista.