Purguy contra o trabalho escravo

A principal ideia do projeto era apresentar aos estudantes e suas famílias a conjuntura do trabalho escravo no Brasil e no sul do Pará, alertando para a incidência desse crime em fazendas vizinhas e para a presença do aliciamento na região. A escola situa-se em região marcada por acentuado conflito agrário. O distrito fica em uma espécie de “rota do trabalho escravo”, ou seja, recebe muitos trabalhadores que vivem transitando de uma região para outra do país em busca de trabalho.

Por essa razão, a comunidade vive sob uma espécie de lei do silêncio, e a principal dificuldade encontrada durante o projeto foi romper essa barreira. A comunidade evitou comentar o assunto por medo de possíveis represálias. Apesar disso, a escola recebeu grande apoio de mães e pais que consideraram o debate sobre o tema muito importante.

O trabalho escravo foi conteúdo inserido no programa de todas as disciplinas, e as aulas foram enriquecidas com sessões de filmes, produção poética, paródias e teatro de fantoches. A escola também promoveu um ciclo com três palestras que discorreram sobre a incidência do trabalho escravo na região e as ações de combate, sobre a falta de oportunidades de trabalho no município, e sobre o papel da escola para que estudantes conheçam e lutem pelos seus direitos e tenham uma posição crítica e reflexiva a respeito do próprio trabalho.

Durante uma das palestras, dois estudantes de Educação de Jovens e Adultos se sentiram à vontade para dizer à turma que já enfrentaram situações de trabalho semelhantes às que assistiram nos filmes, em fazendas da própria região. Foi o primeiro passo para que as pessoas da comunidade ganhassem confiança para debater o tema.

O projeto foi finalizado com a Via-sacra do trabalhador escravizado. Estudantes, professores, professoras e algumas pessoas da comunidade refletiram sobre a trajetória de vida e sobre o sofrimento dos trabalhadores escravizados, por meio da apresentação de textos, músicas, poesias, paródias e depoimentos.