Jovens quilombolas dizem não à escravidão

No Quilombo Barra do Parateca, que fica na cidade de Santa Maria da Vitória (BA), muitos moradores têm perdido suas terras e os jovens têm migrado para outras cidades à procura de trabalho. Nesta situação, podem ficar vulneráveis e ser vítimas de trabalho escravo. O projeto “Liberdade: direito de todo cidadão” foi criado para fortalecer a relação dos jovens com seu local de origem e incentivá-los a lutar por suas terras.

O projeto resultou em duas peças, que foram produzidas em oficinas com os jovens do quilombo. A primeira trouxe situações relacionadas ao tráfico de pessoas, enquanto a outra apresentava um paralelo entre a escravidão colonial e a contemporânea, ressaltando as semelhanças e diferenças entre elas. As dramatizações foram exibidas a toda comunidade e contribuíram para esclarecer e prevenir ambos os problemas.

Nos encontros com os jovens para a elaboração das peças, além de exercícios teatrais, eram realizadas formações sobre trabalho escravo e tráfico de pessoas. “Eu os enchia de questionamentos, jogos, informações práticas e teóricas, e depois pedia que eles criassem cenas que mostrassem o que foi abordado naquele dia”, contou o professor de teatro.

Para que as ações tivessem êxito, foram estabelecidas parcerias com a Comissão Pastoral da Terra e uma série de organizações do quilombo, como a Associação Quilombola, o Centro de Referência de Assistência Social, escola e igreja. As entidades se envolveram na elaboração das atividades, emprestaram os seus espaços e auxiliaram na divulgação.

Um grande feito do projeto foi relacionar a temática do trabalho escravo com a história de vida dos moradores. Para isso, as peças teatrais foram criadas com base nos seus depoimentos dos jovens do quilombo. Em um dos casos relatados, uma jovem contou a história de seu irmão, que foi aliciado para trabalhar em uma fazenda distante e se tornou vítima de trabalho escravo. Ele conseguiu fugir do local, escondido entre os sacos de carvão de um caminhão, mas não denunciou a situação por não saber que havia sido vítima de um crime. Esse depoimento foi a inspiração para as montagens teatrais e, até mesmo, o apelido do aliciador real, “Algodão”, foi utilizado. Materiais didáticos do programa Escravo, nem pensar! e documentários também contribuíram para a elaboração das apresentações.

“Inicialmente pensavam que o professor iria trazer uma peça pronta para que eles encenassem. Mas eles gostaram da metodologia de eles mesmos criarem o teatro, tendo como referência o conteúdo trabalhado. O público gostou do dinamismo dos jovens, teve noção do que é o trabalho escravo e como é uma realidade bem próxima da comunidade.” – Abeltânia de Souza Santos, educadora popular e coordenadora do projeto.