Conscientizar para não escravizar

A economia de Unaí gira em torno da pecuária extensiva, uma das atividades em que mais há ocorrências de trabalho escravo no Brasil. Não é à toa que o município ocupa a quinta colocação no ranking de trabalho escravo do estado. Desde 2003, foram libertados mais de 138 trabalhadores ali, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra. Em 2004, quatro servidores do Ministério do Trabalho e Emprego foram assassinados durante uma fiscalização na zona rural da região, episódio que ficou conhecido como Chacina de Unaí e até hoje causa receio na população local. Por isso, as ações do projeto na cidade foram tão importantes.

Envolvendo os professores de todas as disciplinas da escola,  o projeto abordou o trabalho escravo e temas correlatos em todas as turmas do Ensino Fundamental, que produziram painéis, cartazes, textos, poemas, paródias, danças, teatro, jogos, mandalas, além de participarem de rodas de conversa e sessões de cinema e palestras com especialistas. Esses trabalhos foram apresentados em um evento de culminância aberto à comunidade. Houve também distribuição de panfletos pela cidade.

Devido à importância do tema, um professor replicou o projeto em outras escolas do município onde também trabalhava, envolvendo mais 500 alunos do Ensino Médio e pessoas de comunidades rurais próximas. De acordo com ele, os jovens “ficaram assustados ao identificar a escravidão em sua rotina familiar”, o que evidencia a forte presença da prática na região e o medo que a população tem em falar sobre o assunto. O saldo final foi positivo, despertando a curiosidade dos jovens e esclarecendo conceitos sobre o trabalho escravo e suas diferenças e semelhanças com a escravidão colonial para a comunidade em geral.

De todas as atividades propostas, a peça teatral foi a que despertou o maior interesse do público. O figurino, a linguagem e a própria história apresentada possibilitaram uma visualização de como se origina e se desenvolve o trabalho escravo. A sementinha foi semeada. Esperamos que venha a ter uma colheita de esperança e conscientização para que um dia possamos acabar com esse crime, com a cooperação de todos.” – Clélia Alves de Araújo, professora de Geografia e coordenadora do projeto.