0%

Amazônia

  1. O início da ocupação
  2. As questões socioambientais da Amazônia
  3. O que a ocupação da Amazônia tem a ver com trabalho escravo?
  4. Cadeias produtivas
  5. Amarrando as pontas

O início da ocupação

 

Como vimos no filme “Nas Terras do Bem Virá” (2007) de Alexandre Rampazzo, a ocupação da Amazônia foi estimulada por meio de uma política de governo durante o regime militar, nas décadas de 1960 e 1970.

O objetivo era colonizar a região, com a ocupação humana, a criação de cidades e o fomento a atividades econômicas, especialmente a agropecuária. Grandes grupos econômicos do Sul, Sudeste e empresas multinacionais receberam incentivos fiscais para alavancar seus empreendimentos na região.

Trabalhadores do Nordeste foram atraídos pela propaganda governamental “Amazônia: terra sem homens para homens sem terra.” Com isso, as empresas conseguiriam mão de obra barata para suas atividades. A derrubada da mata e a criação de pastagens absorviam grande número de trabalhadores, os “peões” que, isolados geograficamente e sem poder contar com o Estado na região, foram intensamente explorados.

Dom Pedro Casaldáliga, bispo da prelazia de São Félix do Araguaia (MT), fez a primeira denúncia sobre o trabalho escravo contemporâneo no Brasil em 1970, com a publicação da sua carta episcopal.

Ainda neste século, o processo de ocupação ainda avança em direção à floresta. O resultado disso é uma conjuntura de problemas socioambientais – dentre eles o trabalho escravo, que tem sido devastador para a população e o meio ambiente local.

dompedrocasa93_Wilson Dias
Dom Pedro Casaldáliga

As questões socioambientais da Amazônia

tela1

Esta imagem ilustra a caótica situação da região de ocupação da Amazônia. Ela foi produzida para o relatório “Conexões sustentáveis – Quem se beneficia com a destruição da Amazônia?”, produzido pelo Fórum Amazônia Sustentável, Movimento Nossa Paulo, Repórter Brasil e Papel Social.

Problemas ambientais

Neste século, a ocupação da Amazônia ainda é processo ativo. O bioma nativo dá espaço ao avanço desenfreado da pecuária e dos cultivos de soja e cana-de-açúcar, acompanhados pela urbanização. O limite entre a floresta amazônica e essas atividades é conhecido como fronteira agrícola.

Fronteira_agricola_Amazonica_Brazil
Fonte: Wikipedia

Para isso, milhares de hectares de floresta são queimados diariamente de forma predatória. Não é por acaso que o Arco do Desmatamento, área com a maior incidência de devastação florestal da Amazônia, coincida com a região da fronteira agrícola.

desmatamento_na_amazonia_legal_ate_2012
Fonte: Imazon

Problemas sociais

Como vimos no início dessa seção, o governo militar divulgava que a Amazônia era uma terra sem ocupação humana. Mas isso não corresponde à realidade. Além dos povos indígenas, o local é povoado por ribeirinhos, quilombolas e outras comunidades tradicionais que, por décadas viveram de forma simbiótica com a floresta.

A conservação de grandes porções dessas áreas é também – e principalmente – resultado da relação sustentável que os povos tradicionais desenvolveram o meio ambiente: vivem dos recursos naturais, mas sem depredá-los ou predá-los, porque a sua sobrevivência depende da manutenção e renovação do bioma.

Com a ocupação exógena, muitas terras habitadas por esses povos começaram a ser invadidas pela atividade agropecuária. Não raro, para expulsar a população local, documentos de posse da terra foram falsificados para atestar a propriedade forjada, ou seja, até hoje são praticadas a famosa grilagem de terra.

O resultado disso tem sido a expulsão das populações locais, que acabam tendo que migrar forçadamente para áreas periféricas de regiões urbanas, ou então, conflitos agrários sangrentos. Em 2013, a Comissão Pastoral da Terra registrou 847 áreas de conflito, em que estavam envolvidas mais de 100 mil famílias no Brasil inteiro.

A reportagem “Governo é corresponsável por chacina no Pará, afirmam entidades sociais”, de Leonardo Sakamoto, em seu blog, exemplifica uma situação de disputa fundiária que terminou com o assassinato de uma família inteira.

O que a ocupação da Amazônia tem a ver com trabalho escravo?

 

Na mesma região da fronteira agrícola e do Arco do Desmatamento, concentra-se o maior número de casos de trabalho escravo contemporâneo. Entre 2003 e 2014, 47% dos trabalhadores libertados do trabalho escravo no país foram resgatados na Amazônia Legal.

Os trabalhadores são frequentemente aliciados para trabalharem em frentes de trabalho que visam à derrubada da mata e à roça da juquira (limpeza do terreno para a criação de pastagem). O trabalho dessas atividades é árduo e as condições de vida nessas frentes são, na maioria das vezes, precárias devido ao isolamento geográfico e à falta de infraestrutura local.

Os empregadores e os aliciadores sabem das situações que os trabalhadores terão que enfrentar, por isso recrutam pessoas vulneráveis, dispostas a aceitar pouca remuneração para realizar um trabalho desumano. Muitas vezes, apenas os enganam, mentindo sobre as condições reais, como vimos na seção sobre o trabalho escravo desta publicação.

Cadeias produtivas

Os produtos extraídos, cultivados ou beneficiados na Amazônia são comercializados e consumidos em outras regiões do Brasil e também no exterior. Por isso, produtos como o aço (produzido a partir da queima do carvão vegetal), a carne e a madeira podem ter tido, na sua origem, relação direta com trabalho escravo, desmatamento ilegal e a falsificação de terras.

Diante disso, os órgãos públicos e os próprios agentes do setor privado cobram transparência na cadeia produtiva das mercadorias, exigindo que as matérias-primas oriundas da Amazônia não estejam relacionadas a essas práticas criminosas. Confira o vídeo “Pegada Ecológica “, produzido pela Repórter Brasil e exibido pelo Canal Futura.

 

Amarrando as pontas

 O programa Escravo, nem pensar! elaborou uma animação que reúne os conteúdos que trabalhamos nessa sessão. Confira