Apresentação Caros leitores, A publicação Escravo, nem pensar! – Uma abordagem sobre trabalho escravo contemporâneo, elaborada pelo programa “Escravo, nem pensar!”, da ONG Repórter Brasil, é dedicada a educadores e lideranças comunitárias e tem como objetivo suscitar a reflexão sobre os temas do trabalho escravo contemporâneo e do tráfico de pessoas. Esta é a terceira edição do livro – a primeira foi lançada em 2007 e a segunda, em 2012, ambas em versão impressa. Desta vez, o programa apresenta o conteúdo do livro em formato digital. Até há pouco tempo, o acesso à internet era pouco disseminado, mas nos últimos anos temos sentimos uma sensível ampliação no uso de redes sociais e à aquisição de suportes como tablets e smartphones em muitos lugares do país. Contudo, o uso desses instrumentos e da internet para fins educacionais ainda não é uma prática recorrente no Brasil. Por esse motivo, avaliamos a necessidade de elaborar uma publicação que promovesse a inclusão digital em âmbitos formativos e privilegiasse recursos interativos voltados a uma experiência inovadora de aprendizado. Aliamos, assim, o novo formato do nosso livro à metodologia que utilizamos para abordar o tema do trabalho escravo em nossas atividades de formação. O objetivo do Escravo, nem pensar é incidir por meio da educação em comunidades onde o trabalho escravo e o tráfico de pessoas ainda persistem, apresentando esses problemas como sérias violações de direitos humanos e que, portanto, devem ser coibidos e punidos. A partir do conhecimento, as comunidades têm condições de, elas mesmas, se mobilizarem e desenvolverem ações de combate, subsidiando o trabalho da fiscalização e formando uma rede de prevenção e proteção ao trabalhador. A forma contemporânea de escravidão não prende suas vítimas a correntes, mas continua negando-lhes o direito à dignidade e à liberdade. O legado escravista e a estrutura agrária deixaram raízes profundas na organização social do campo: a concentração da terra piora a vulnerabilidade socioeconômica de milhares de trabalhadores, que, diante da falta de opções, se veem obrigados a aceitar condições de vida e de trabalho desumanas. O desenvolvimento econômico, prometido pelo governo e pelo setor privado, por meio da construção de grandes empreendimentos e da alta produtividade do setor agropecuário, tampouco melhorou a vida dessas pessoas. O resultado disso é a naturalização das relações de dominação e exploração que se mantêm desde o período colonial. Até há pouco tempo, o trabalho escravo e o tráfico de pessoas eram fenômenos que pareciam ter lugar apenas em regiões remotas do país. Nos últimos anos, os crimes são encontrados com frequência em todos os estados brasileiros, inclusive em grandes centros urbanos; a exploração tem se adaptado aos moldes das atividades econômicas desses locais, seja na tecelagem, na construção civil ou no mercado do sexo. Diante disso, o trabalho escravo é um tema que diz respeito a todos nós, por isso devemos ser protagonistas no seu combate. Nas próximas sessões, compartilhamos mais sobre os temas e damos exemplos de como ampliar os nossos esforços para erradicar práticas arcaicas e vergonhosas do nosso país. Bom aprendizado! Equipe do programa Escravo, nem pensar!